Eu odeio parecer politizado, mas vá lá.

Saindo de casa tive a oportunidade de ver uma senhora, na frente do meu prédio, aparentando ter a soma da idade das minhas duas avós, absolutamente esquálida, revirando latões de lixo, acumulados dos dois prédios contíguos, o meu e o vizinho. Até aí, nada de novo, realmente. A única diferença foi quando eu vi, nas mãos dela, um saco plástico quase transparente. O saco continha algumas coisas, já, e ela estava incluindo entre os seus pertences uma caixa de suco. Aí, o choque. Era uma caixa vazia que eu havia jogado na minha própria lixeira há uma meia hora, passado à mão do zelador, que dispensou o lixo coletado de todo o prédio, que estava sendo catado pela senhora. Enquanto eu passava mal no acostamento da minha mínima rua, pensei sobre todas aquelas coisas grandiosas da vida e da morte, como destinos diferentes se tocam sem que isso nem seja percebido, se o destino daquela senhora não deveria estar reservado para mim, alma tão vil, entre outras idéias que, de tão complexas, ficam supérfluas.
- Me deu vontade de parar o post por aqui. Interpretações filosófico-psicanalíticas são bem vindas. -
Já li em histórias fictícias diversas referências a personagens com o poder de acessar os pensamentos alheios. Ok, até aí tudo bem. Mas também já li diversas referências à agonia provocada pelo excesso de pensamentos intrusos na cabeça de tais personagens. Nesse dia, de velhas e de lixo, eu percebi que sofro de um mal similar. Na verdade, eu sofro de um mal inverso: sofro da agonia provocada pelo excesso de pensamentos que brotam vindos da minha própria cabeça, mas tão indesejados quanto se fossem alheios.

xeque: O post mais vomitado que eu já vi.

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