Taí, vou virar delator de crimes

Hoje, tomando o café da manhã (e isso, nessa nova rotina de acordar milagrosamente 5 e meia, é realmente cedo) e conversando com o amado Peis, tive um vislumbre curioso na minha rua: Um pessoais me espionava (pessoais = mendigo/assaltante/vítima da recessão financeira). Olhei para o pessoais, que se encontrava acompanhado de dois amigos, e percebi que o seu olhar era realmente para mim. Mas ele não estava curioso ou maldoso, simplesmente desconfiado. Com toda a finesse disponível antes das 8 da manhã, comentei com o meu pai: "Aquele vagabundo tá aprontando alguma coisa...". Enquanto eu me virava para falar isso, o agora-denominado-vagabundo pensou que estivesse livre da minha vigia, e se virou para os seus amigos. Um deles, delicadamente, testou a porta do depósito da construção do outro lado da rua, e notou que estava aberta. Não sem olhar inúmeras vezes para os lados, os três amigos pessoais entraram no depósito. Nesse ponto eu já bradava "Tão roubando, que descaração, roubando o depósito, bando de feladaputa" e meu pai defendendo-os veementemente "Não, você não tem certeza, podem ser trabalhadores da construção" "Eu sei como é a cara de gente fazendo coisa errada, meu pai. Eles tão roubando" "Quéisso, que julgamento precipitado" "Tô te dizendo..." "Não, não, você tá exage... Porra, ele tá arrombando o quartinho do fundo do terreno com um pé-de-cabra! Bando de feladaputa, só podia ser vagabundo, querendo roubar, vou ligar pra polícia..."
Após o diálogo construtivo, eis o que aconteceu: Os agora-já-ladrões estavam vasculhando o terreno à procura de materiais de construção pra roubar (assaltante ralé é foda). Eu e meu pai, como em qualquer atividade pais-e-filhos normal, fomos para o meu quarto e ficamos espiando tudo através da janela com filtro, de binóculo (literalmente), enquanto os ladrões pegavam um latão de lixo para levar o seu saque (aliás, assaltante soteropolitano é foda), auxiliados, inclusive, por peões da outra obra da rua, que deviam estar envolvidos na mamata toda. Três deles saíram, acompanhados dos nobres funcionários da outra construtora, todos levando o que podiam, e o outro ficou, tranquilamente, arrumando a sua pilhagem, afinal, era material demais para carregar numa viagem só. Depois que levou a última parte do roubo, já fora de vista, chega à minha rua uma viatura da polícia, acompanhada do que, eu deduzi, deveriam ser representantes da construtora. Depois de muita conversa, a viatura saiu de cena também, voltando, 10 minutos depois, com o sujeito já no fundo do camburão. Enquanto meu pai se coçava para pegar um facão e ir ajudar à ação policial, eu assisstia a tudo ávidamente. Depois de receberem fotos do ladrão pegando seus materiais (incrível, por acaso), os policiais levaram o ladrão em definitivo, que, até então, estava tentando justificar que não-era-ele-pelamordedeus-eu-só-achei-esses-materiais-ali-largados-no-meio-da-ladeira. Depois de esfregar as fotos na cara do sujeito, os policiais fecharam o camburão e levaram o meliante. "ohhh, já?", eu pensei.
Quinze minutos depois do fim de toda a comoção, os três comparsas voltam, descaradamente, para a cena do crime, e continuam o que o primeiro não conseguiu, levando o que podiam carregar nas mãos. Fugiram pela mesma rota do primeiro, que já devia estar chegando à delegacia, onde seria bem recepcionado por policiais civis. Meu único pensamento, não vou mentir, foi "Ô veeeei!"
Logo em seguida, passa uma viatura disparada, na direção da fuga dos três comparsas. Quinze minutos depois, volta a caminhonete da construtora, carregada com todos os materiais que os irmãos metralha tentaram levar após a prisão do seu companheiro.
I-na-cre-fucking-di-tá-vel
Eu sei que isso pode não ter graça nenhuma para ninguém além de mim, e meu pai com mágoa de Rambo, mas, com uma manhã dessas, quem precisa de TV, deus do céu?

xeque: A história é completamente verídica, mas não tá na íntegra aqui, por questão de Copyright, então pode perguntar pela versão completa, que eu conto.

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