Agora há pouco eu tive o grandessíssimo prazer de assistir à única entrevista televisionada de clarice lispector. Tudo graças à indicação de Vaca. Não vou mentir que eu estou experimentando um pouco de raiva dela. Nada que ela tenha feito ou sido, nunca disso. Sinto um pouco de raiva por me enxergar tanto nela. Eu posso estar sendo absolutamente inverídico, mas eu enxerguei nela um grande dificuldade de domar os próprios pensamentos. Fora a dificuldade fonética óbvia, mecânica, me parecia que ela sentia e pensava 150000 vezes mais do que conseguia falar, e eu tenho uma idéia clara de como isso é torturante.
A raiva vem do fato seguinte: Clarice Lispector sabia verter em um papel qualquer sentimento. E mesmo que o mesmo não fosse vertido com precisão, era preciso o suficiente para trazer-lhe paz de espírito. Ou, pelo menos, é o que ela afirma. Ela conseguia se contentar com um rabisco de uma frase num pedaço de papel, que futuramente viria a amadurecer em forma de um conto ou uma crônica. Eu mal consigo postar nesse blog, e tudo o que eu escrevo me traz muita raiva, por nunca ser precisamente o que eu quero dizer.
Vai ver essa minha relação platônica com as palavras é o que sempre me impediu de desencantar a minha capacidade de escrita (eu imagino ter alguma). O pior é que eu sei que noites como essa, insones e terrivelmente longas, são o prelúdio de dias de ações, dias de palavras ofuscadas como estrelas, por um sol de vida vivida. E a conclusão do que iniciou esse reles texto vai ser postergada ainda e ainda.

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