15000 anos após a últma postagem...

Eu ia fazer uma postagem completamente diferente, mas acabei de apagar ela toda. Não parecia tão interessante quanto hoje pela manhã. Minha mente está... não está exatamente fervilhando... mais como um caldo que você já não sabe exatamente do que é feito, por ser tão cheio de ingredientes. Frio, mas ainda assim confusamente povoado. Isso não me incomoda, não mesmo. Talvez um pouco, porque eu gosto de fazer postagens concisas, com um enredo definido, apesar de muitas vezes acabar caindo nessa mania de Random Thoughts que eu tenho. Talvez porque eu raciocine muito assim, não-linearmente.

Isso me lembrou uma coisa que eu vi na aula que fui assistir na faculdade de Fow. O professor discursava sobre a dicotomia entre personalidades e comportamentos arquetípicos Apolíneos e Dionisíacos. - Até eu me perdi nessa frase anterior - As referências mitológicas explicam por si só os traços de personalidades:

Apolo: Belo, talentoso, músico dedicado, caçador exímio, amante devoto, filho exemplar, o sábio pai do Oráculo que orientava tantas pessoas. Racional e artístico, de um jeito que só a música sabe combinar.

Dioniso: Filho renegado que teve que lutar para ter seu devido lugar como divindade, mãe louca, pai adúltero, criança superdotada mal compreendida, entendia da loucura como só ele - conseguindo a proeza de usá-la tanto como bênção quanto como castigo, corrompia mulheres, homens, animais, todos que quisessem participar dos seus bacanais (os bacanais dispensam explicações), criador do vinho, a droga que tragava os gregos para a fuga da realidade lógica e os introduzia numa experiência meramente sensorial, carnal.

Tá, aí eu, como não poderia deixar de ser, passei o resto do dia pensando em qual personalidade eu me encaixava. Obviamente, todo ser humano tem uma parcela das duas, menos, talvez, os loucos, mas eu não vou entrar nesse mérito. A Loucura é toda uma divindade à parte. Bom, essa análise exige todo um novo parágrafo.

Hoje à noite eu me peguei no meio desse caldo (previamente descrito) que está minha mente. Estava na varanda, olhando pro nada e pensando "Em que diabos eu estou pensando, mesmo?". Quando voltei à sala, fiquei conversando brevemente e, durante essa conversa, comecei a notar algumas coisas no meu comportamento. Minha pseudo-parcimônia, meu tom de voz baixo, as características das minhas colocações... aí me atingiu: É por isso que as pessoas me tomam por certinho! Eu nem faço idéia da quantidade de referências que eu já ouvi à minha apolineidade (neologismo comendo no centro). Eu sempre fui bonzinho, ou comedido, ou ponderado, ou parcimonioso, ou correto, resumidamente, tedioso. Meu comportamento é Apolo esculpido em carrara! (a ironia é que ele já foi, realmente, esculpido em carrara) Ninguém no mundo faz idéia do inferno dionisíaco que rola dentro da minha cabeça! Eu fui tão bem treinado (obrigado papai e mamãe) a minha vida inteira a ser quem as pessoas esperam que eu seja, que eu simplesmente não reproduzo em ações os meus pensamentos! Enquanto eu estudo xadrez (sim, isso acontece), a quantidade de desejos, emoções descontroladas, pensamentos insólitos e ânsias que me sufocam passando pela minha mente é incrível. Minha realidade interna é tão caótica que eu não acredito e auto-critico a maioria das coisas que eu mesmo falo. Às vezes as pessoas me procuram por conselhos quando, na verdade, eu estou dizendo coisas nas quais não acredito um mínimo possível! Tá, esse texto tá escrito coerentemente (eu espero), mas se eu começar a me comunicar de maneira incoerente (o que acontece, se eu não pensar três vezes antes de falar) eu vou acabar parando num hospício (o que quase aconteceu nesse ano que passou. Minha família acabou sendo testemunha da anti-normalidade que me povoa, coisa que eles nunca conseguiram nem conceber, em 19 anos de vida. Até hoje eu não sei o que os impediu de simplesmente se livrarem de mim, é o que eu teria feito).

Graças a Deus (ó, inexistente) eu venho aprendendo a, clichemente, ser mais eu, em lindas doses homeopáticas. Também, se eu fosse abrir a represa em um tapa, acabaria pulando de pára-quedas, todo equipado de homem bomba, e me dinamitando a quilômetros de altura, numa espécie de fogos de artifício sangrentos. E aí eu ia ter que ouvir (ou não) no meu velório "Era um menino tão bom, nunca esperaríamos isso dele", e nenhum morto merece esse tipo de coisa.





Por hoje chega.

Bonsoir.





xeque: mitologia grega é tudo na vida de um homem.

ps: Eu ia dizer que escrevi pra caralho, mas quando é que eu não escrevo pra caralho nesse blog? De hoje em diante fica subentendido.

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